Na segunda-feira, no liceu, procurou Andrea.
--- Olá. Que tal o teu fim de semana?
--- Ola! … bem … pensando em ti … temos que falar … não?!!!
--- Penso que sim … espero-te depois das aulas?
--- Sabes a que horas saio?!!!
Juan ruborizou-se …
--- Sim … …
--- Está bem. Esperam-me.
Passaram horas sentados no banco de um jardim perto … falaram dos seus sentimentos … de tudo um pouco …
--- Juan, que te pareceu aquela cena em casa de Sato?
--- Gostei … já sei que a ti … não muito …
--- Não é que não goste … mas dá-me muito medo …
Fez-se um silencio …
--- Desenhei uma Ouija …
--- O quê?!!!
--- Sim … tenho-a no meu quarto …
--- E funciona?
--- Não seu … ainda não experimentei … vou experimentar hoje quando voltar a casa.
--- Tem cuidado, por favor …
--- Não te preocupes … não passa nada …
A verdade é que estava cheio de vontade de tentar.
Essa noite, quando os seus pais já estavam deitados, Juan foi ao roupeiro. Aí tinha guardado o seu desenho.
Não tinha um copo … olhou à sua volta … em cima da sua mesinha de cabeceira … viu uma pequena caixa de madeira … podia servir.
Pôs o quadrado de cartolina no chão … predispôs a pequena caixa de madeira e, com o seu dedo indicador direito pensou na primeira pergunta …
--- HÁ AQUI ALGUM ESPIRITO?
A CAIXA NÃO SE MEXEU.
Repetiu a pergunta uma dezena de vezes … mas não conseguiu resultados.
Voltou a por a folha no roupeiro e deitou-se.
A meio da semana o grupo chamou-o … iam de novo a casa de Sato.
Ele já sabia para quê?
Consultou Andrea com a mirada … confirmou que também iria.
As coisas foram muito mais fáceis.
Às perguntas foram-se sucedendo as respostas … apareceram nomes que alguns dos presentes reconheceram …
Juan mostrou-se muito activo … Andrea mais reservada …
--- Estas em força Algarrobo … vê-se que gostas de isto …
--- A verdade é que sim …
As reuniões começaram a ter mais regularidade …
Aproximavam-se as férias da Páscoa … Andrea estava triste …
--- Que te passa Andrea?
--- Bem … vem aí a Páscoa … vamos a ver-nos?
--- Claro que si … porque não?
--- Não sei … ultimamente te vejo pouco.
--- Que dizes?!
Esta semana só nos encontramos duas vezes …
Juan parou pensando … era verdade … nem tinha dado conta …
--- Penso que o grupo reunir-se-a, ao menos uma vez, para jogar à Ouija.
--- Só pensas nisso? Falo-te de nós … e tu falas de sair com o grupo?!
--- Tranquila, Andrea … podemos estar juntos e com o grupo ao mesmo tempo … não?!
--- Curioso … há umas semanas queixavas-te que havia demasiada gente quando estávamos juntos.
Zangada, Andrea virou-lhe as costas e começou a caminhar pela rua … esperava que ele a seguisse … mas Juan ficou parado.
Quando desapareceu na esquina Juan dirigiu-se a casa.
Estava muito intrigado. A sua Ouija continuava muda e quieta … mas notava algo raro no seu quarto … a porta fechava-se quando a deixava aberta … e se a deixava fechada, quando a olhava no fim de um tempo via-a aberta … e na sua habitação não havia correntes de ar …
Tal como previa, o grupo chamou-o. De esta vez não estava Andrea.
A Ouija de Sato funcionava sempre.
--- E se tentássemos algo diferente?
--- A que te referes Algarrobo?
--- Esperem … deixem-me experimentar uma coisa --- concentrou-se --- QUE OS ESPIRITOS QUE SE ENCONTRAM AQUI SE MANIFESTEM COM SONS.
Todos ficaram sem reacção.
De repente, uma pancada no chão fez dar um salto a todos.
Era como se alguém estivesse por debaixo do sobrado flutuante dando murros.
Nada teve a coragem de dizer uma só palavra.
Sato, sempre o mais nervoso, levantou-se dando o encontro por terminado.
--- Porque tens sempre que ser tu quem dá as sessões por fechadas?
A pergunta de Juan deixou a todos surpreendidos … pelo tom quase agressivo … e por vir de alguém normalmente tão tranquilo como era Juan.
Depois de um momento de hesitação Sato respondeu …
--- Vamos a ver … esta é a minha casa, não?! Tenho algum direito de dizer basta, parece-me.
--- Pois então fica com a tua casa e com a tua Ouija … aqui eu não voltarei mais.
Parte da frase já Juan a disse descendo as escadas a caminho da rua.
Os demais olharam-se sem compreender …
--- Que lhe passa?
--- Não sei … mas Andrea comentou-me que Algarrobo anda muito estranho ultimamente …
--- Olhem … --- Sato continuava nervoso --- penso que deveríamos acabar com estas reuniões de Ouija … não vos parece?
Todos estavam de acordo.
Juan chegou a casa visivelmente perturbado.
Deitou-e, vestido, em cima da cama …
Tinha consciência que se sentia um pouco raro …
A sua explosão, em casa de Sato, estava completamente despropositada … não compreendia como tinha dito todas aquelas coisas …
Imerso nos seus pensamentos algo despertou bruscamente a sua atenção … não sabia identificar o quê … era como que um movimento … impossível … estava sozinho no quarto …
Mas … repetiu-se … sentou-se na cama … num dos cantos do quarto … na parte onde chegava menos luz um vulto parecia estar de pé …
Saiu da cama e acendeu outro candeeiro … mas o que fosse … desaparecera …
Estava com alucinações?!!!
Decidiu baixar ao andar de baixo … comeria algo …
Exactamente quando estava chegando à porta do seu quarto esta fechou-se com violência.
Juan assustou-se … com a surpresa caiu de costas …
Quando levou a mão à maçaneta da porta esta se abriu …
Começou a descer as escadas … a meio apagou-se a luz … Juan ficou um momento parado … lembrou-se que o seu relógio de pulso tinha uma luz … não era muito forte mas serviria para encontrar os escalões.
Mas a luz voltou.
O andar de baixo os seus pais viam a televisão … olharam para ele …
--- Que passa, Juan?
Em baixo estava todos normal, não tinham notado nada de estranho.
Nos dias seguintes, Juan não se sentiu bem fisicamente … ficou em casa.
A sua mãe chamou o médico … mas ele não lhe encontrou nada … recomendou descanso …
Sempre que ficava sozinho no seu quarto sentia movimentos … as luzes apagavam-se e acendiam-se … a aparelhagem de musica começava a tocar …
--- Juan, há alguém que quer ver-te.
Ficou surpreendido … quem seria …
A sua surpresa aumentou quando Andrea entrou.
--- Andrea … que fazes aqui?
--- Estava preocupada … não sei de ti há semanas … e disseram-me que estava doente …
--- E como sabias donde vivo?
--- Que pensas, Juan?! Que nada sabe que vives no bairro de Madre de Dios?
A verdade é que Juan evitava dizer que habitava num dos bairros mais problemáticos de Sevilla.
Ficou contente em receber Andrea … abriu-se com ela e acabou contando-lhe o que passava.
Andrea estava aterrorizada só de ouvi-lo.
Quando ficou sozinho sentiu-se mais aliviado …
A noite foi terrível … as sombras iam e vinham … sempre que estava quase a adormecer algo o sacudia …
Quando saiu o sol Juan estava desesperado.
A sua mãe foi despedir-se de ele antes de ir trabalhar … Juan segurou-lhe a mão …
--- Não me deixes sozinho, mãe!
--- Que dizes … tontito … sabes que tenho de ir trabalhar …
O medo de ficar sozinho apoderava-se dele.
Agora as sombras riam-se … os sons chegavam-lhe perfeitamente …
Desceu as escadas correndo e foi ao escritório do seu pai … procurou na segunda gaveta.
Sabia que o seu pai tinha um revolver guardado debaixo de uns papeis. As munições estavam na outra gaveta.
Voltou ao seu quarto e sentou-se na cama.
Com a arma na mão tomou uma atitude mais beligerante …
--- Aproximai-vos agora … vereis o que tenho para vocês …
Do outro lado escutou uma voz sussurrante …
--- … não tens tomaaateeesss !
Juan apontou ao vulto e disparou … mas não conseguiu mais do que ouvir uma gargalhada sinistra.
A partir daí Juan disparou a todo o que se movia.
Já só tinha uma bala na antecâmara … agora havia muitos vultos … moviam-e muito depressa … cruzavam-se no ar …
Um deles lançou-se sobre ele e sentiu como se entrasse no seu interior …
--- … agora estou dentro de tiiii … que pensas fazer valentão?!!! … … …
Juan não sabia o que fazer … sentiu como que uma força interior que movia a sua mão … não controlava os movimentos … e as gargalhadas escutava-as cada vez mais fortes dentro de si …
Lentamente a arma apontou a sua cabeça … o seu dedo flexionou-se … pouco a pouco …
Um enorme estrondo ecoou na sua cabeça … depois … finalmente … o silencio … os vultos tinham desaparecido … havia ganhado …
dramatização de jorge peres
Esta dramatização está baseada, infelizmente, numa historia real passada no inicio dos anos 90, no bairro de Madre de Dios em Sevilha.
Quero dizer-vos um par de coisas que me parecem importantes:
Primeira – O TABULEIRO DE OUIJA NÃO É UM JOGO … é muito importante que toda a gente tenha bem presente que a ouija é um meio de contacto, como um intercomunicador ou um transmissor …
Segunda – quando pensem em contactar com espíritos têm que saber exactamente o que pretendem … têm que estar preparados …
Terceira – se têm medo … não o façam.
Este meu trabalho teve como base de informação uma publicação do investigador Javier Lobato, cabeça e voz do programa de radio ALCOSA OCULTA. Deixo-vos o enlace:
http://www.javierlobato.net/2013/05/expediente-madre-de-dios.html
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